Geopolítica é a ciência que se concentra na utilização de poder político sob determinado território. Em uma visão mais prática, a geopolítica compreende as análises de geografia, história e ciências sociais mescladas com teoria política em vários níveis, indo do nível desde o Estado até o internacional-mundial.
Normalmente,
geopolítica é uma palavra associada aos assuntos que envolvem relações
internacionais, acordos diplomáticos e toda espécie de conflito entre países,
culturas ou disputas territoriais. É muito comum as pessoas entenderem
geopolítica como uma síntese dos acontecimentos atuais de nossa sociedade.
O
termo foi criado pelo cientista político sueco Rudolf Kjellén no início do
século XX, baseado na obra do geógrafo alemão Friedrich Ratzel "Politische
Geographie" (Geografia Política), de 1897.
O
conceito de geopolítica começou a ser desenvolvido a partir da segunda metade
do século XIX, por conta da redefinição de fronteiras na Europa e do
expansionismo das nações europeias, o que ficou conhecido como imperialismo ou
ainda neocolonialismo. Podemos destacar as análises realizadas pelo geógrafo
alemão Friedrich Ratzel (1844-1904), responsável pela criação do determinismo
geográfico e da teoria do espaço vital.
Em um cenário político de unificação da Alemanha, em contraponto ao expansionismo já consolidado de Rússia, Inglaterra, França e até mesmo dos Estados Unidos, Ratzel ajudou a criar uma geografia alemã que se prontificou em justificar as conquistas territoriais da Alemanha.
Para
Ratzel, a superioridade plena de um determinado território caracterizaria o
Estado. Dessa maneira, o saber geopolítico apontaria para o Estado como
centralizador de decisões estratégicas, o que legitimou as ações imperialistas
da Alemanha, como pode ser observado nas disputas que originaram as duas
grandes guerras e, em parte, nos princípios utilizados pelo nazismo.
Em
oposição as alegações de Ratzel, podemos citar o geógrafo francês Paul
Vidal de La Blache (1845-1918), que criou outro enfoque, conhecido como
possibilismo. Ao final do século XIX, a França ainda não tinha um conhecimento
geográfico estabelecido e, temendo as pretensões alemãs, o Estado francês
entregou a La Blache a responsabilidade de criar uma geografia francesa.
Segundo
La Blache, o espaço geográfico não deveria ser o único objetivo de uma nação,
pois seria preciso considerar o tempo histórico, as ações humanas e demais
interações, o que na verdade acabou lançando as bases para uma geografia
regional. Assim, a soberania sobre um território estaria vinculada ao
conhecimento regional, como a compreensão das formas de relevo, aspectos
climáticos, economia, população, etc.
Ainda
dentro desse contexto podemos também mencionar o geógrafo britânico Halford
Mackinder (1861-1947), que publicou no ano de 1904 o ensaio "O Pivô
Geográfico da História”, que apontava o poder das conquistas territoriais
continentais, apresentando uma maior preocupação com a ocupação da Europa
Centro-Oriental, até porque os transportes terrestres começavam a favorecer a
interiorização das ocupações, mudando um pouco as estratégias que até então
depositavam maior importância nas conquistas marítimas.
Porém,
foi o jurista sueco Rudolf Kjellén (1864-1922), seguidor das ideias de Ratzel,
quem criou o termo geopolítica no ano de 1916, procurando constituir relações
entre os acontecimentos políticos e os aspectos geográficos. Cabe ressalvar
que, nos dias atuais, a geopolítica é considerada como uma frente teórica que
inclui o território e as suas nuances políticas, não apenas no plano externo,
mas também nas questões internas a um determinado Estado-nação.
O
período conhecido como Guerra Fria expressou muitos dos princípios da
geopolítica, pois envolveu uma grande disputa ideológica e territorial entre
duas potências, a União Soviética e os Estados Unidos, com grande ênfase no
papel do Estado no que tange às decisões estratégicas e na definição de valores
e padrões sociais.
Com
o fim da Guerra Fria, as maiores discussões geopolíticas se voltam ao combate
ao terrorismo, à questão nuclear, às redefinições de fronteiras nos países
africanos e do Oriente Médio e até mesmo aos problemas socioambientais.
Geopolítica no Brasil
Em
relação ao Brasil, também existe interesse nos estudos de geopolítica, como por
exemplo quando a capital federal foi do Rio de Janeiro - cidade litorânea, mais
exposta a um ataque - para a cidade de Brasília - região bem mais ao centro.
O
Brasil também se fez notar por sua vigilância e presença na Antártida,
inclusive com uma delimitação de domínio territorial e projetos de ocupação do
norte do país, com iniciativas como o projeto "Calha Norte".
Presença brasileira na Antártida
O
projeto Calha Norte é um programa de desenvolvimento e defesa da região norte
do Brasil. Idealizado em 1985, previa a ocupação militar de uma faixa do
território nacional situada ao norte da calha do Rio Solimões e do Rio
Amazonas. Atualmente, é subordinado ao Ministério da Defesa do Brasil, sendo
implementado pelas Forças Armadas. O argumento usado para a implementação desse
projeto é "fortalecer a presença nacional" ao longo da fronteira
amazônica, tida como ponto vulnerável do território nacional.
Atualmente
todos os estudos de geopolítica estão voltados a analisar criticamente as
relações globais entre nações.
Focos de tensão
no mundo
No mundo todo
existem regiões que vivem intensos conflitos, originados pelos mais diversos
motivos, que podem ser disputas por territórios, pela independência, por
questões religiosas, recursos minerais, entre outros. Em todos os continentes,
é possível identificar focos de tensão que colocam em risco a paz daqueles que
vivem nos locais que estão envolvidos.
Europa
No continente
europeu, uma dos principais causas de conflitos é a questão do povo basco. O
povo basco está distribuído no nordeste da Espanha e sudoeste da França. Essa
etnia luta pela independência política e territorial há pelo menos 40 anos. Os
bascos correspondem a um grupo social de origem não identificada e que
provavelmente teria chegado à península Ibérica há 2000 anos. Em todo esse
tempo, as nações que estão subordinadas conservaram seus principais aspectos
culturais, como a língua (euskara ou vasconço), costumes e tradições.
A partir desse fato, no ano de 1959 foi criado um movimento com ideias
socialistas e separatistas denominado de ETA (Euskadi ta Askatsuna ou
Pátria Basca e Liberdade). Com o surgimento desse grupo, tiveram início os
atentados, sobretudo às autoridades.
A Irlanda do Norte (Ulster) integra o Reino Unido e, por esse motivo, as
decisões são tomadas em Londres. No caso da Irlanda do Norte, o que acontece é
a luta entre católicos e protestantes. Os católicos lutam há pelo menos 30 anos
em busca da unificação com a República da Irlanda e se opõem aos protestantes,
que são a maioria e querem continuar dependentes ao Reino Unido. O grupo
responsável pelas ações é formado pela parte católica que criou o Ira (Exército
Republicano Irlandês). Esse exército realiza diversos atos terroristas, pois
existe uma grande intolerância por parte dos grupos religiosos.
Outro caso de focos de conflitos
no continente europeu tem relação com a península balcânica. O desconforto ou
descontentamento nesse caso diz respeito às questões étnicas, uma vez que estão
inseridas na região diversas origens de povos, como os sérvios, croatas,
eslovenos, montenegrinos, macedônios, bósnios e albaneses. As divergências
contidas entre esses povos são desenvolvidas ao longo de muito tempo. O que
provoca tensão nessa região é a temática nacionalista e étnica.
África
No continente
africano, o grande motivador dos conflitos é o modo pelo qual o continente foi
dividido. Antes da chegada dos europeus, os africanos viviam em harmonia, pois
os grupos rivais se respeitavam e isso não motivava instabilidade. No processo
de colonização, os países europeus se reuniram em Berlim, em uma conferência,
para definir a divisão do espaço africano, para que esse fosse administrado e
explorado pelas nações envolvidas na reunião.
Entretanto, as
fronteiras impostas pelos europeus não levaram em consideração as diferenças
étnicas existentes no continente. Esse ato equivocado gerou a separação de
grupos aliados, "união" de grupos rivais e assim por diante. Ao serem
agrupados de forma desorganizada e sem analisar a estrutura social, cultural e
religiosa, gerou-se uma grande instabilidade em vários pontos da África.
Tentativas da
União Africana - um bloco de países africanos - para encerrar o conflito
resultaram em um tratado de paz, assinado em 2006. O governo do Sudão apoiou o
tratado, mas apenas uma facção, a do rebelde Minni Minawi, assinou o acordo. No
tratado, o governo concorda em desarmar os Janjaweed, mas até agora pouco foi
feito.
Ásia
Na Ásia, o principal ponto de conflito está localizado no Oriente Médio, mais precisamente no confronto entre árabes e israelenses. É comum encontrar nas mais diversas mídias notícias sobre os conflitos armados entre palestinos e israelenses. Geralmente, ocorrem por meio de ataques terroristas, atentados, homens-bomba, entre outros acontecimentos, sempre marcados por um alto nível de violência.
No Iraque, as
divergências estão ligadas às questões religiosas, econômicas, territoriais e
étnicas. O país é protagonista de confrontos com o Irã e o Kuwait, além da
divergência eterna com os Estados Unidos.
Outra questão
territorial e com ideais separatistas é a respeito do povo curdo, que
corresponde a uma nação sem pátria. Sua população é de aproximadamente 25
milhões de pessoas que estão distribuídas em grande parte da Turquia, Iraque,
Irã, Armênia e Síria. Esses últimos, em grupos menores. A partir dos anos 1980,
teve início o movimento separatista curdo na Turquia. A luta entre os rebeldes
curdos e as autoridades gerou um saldo de pelo menos 40.000 mortes.
Em território
afegão, a instabilidade política está presente há décadas e é promovida pela
religião: 20% da população é xiita e 80% sunita. Além disso, existem as
divergências e rivalidades entre as tribos nativas, promovendo um elevado
número de refugiados (aproximadamente 3,5 milhões de pessoas).
Existe ainda no
continente asiático um grande confronto entre Índia e Paquistão, foco de tensão
estimulado pela intolerância entre mulçumanos e hindus, na região da caxemira,
no norte da Índia e nordeste do Paquistão, área que integra o território indiano
e que não é aprovado pelos paquistaneses.
A Chechênia é um
pequeno território de religião mulçumana que se tornou independente da Rússia,
no ano de 1991. O governo russo não aceitou essa iniciativa e tal fato derivou
grandes confrontos.
Há também a questão entre a China e o Tibet. O Conflito teve início quando a
China se tornou socialista no ano de 1949, e quando no ano seguinte esse país
integrou ao seu território o Tibet, que possui uma restrita autonomia. Na busca
por uma independência total, os monges budistas, sempre liderados pelo líder
espiritual Dalai Lama, se rebelaram contra os chineses. Apesar disso, essa ação
foi reprimida pelo exército chinês.
A Indonésia é um
país constituído por um enorme arquipélago integrado, por cerca de 17.000 ilhas
e abriga uma população estimada de 215 milhões de habitantes. Desse total,
muitos são de etnias e religiões distintas, o que gera uma intolerância
entre os grupos rivais e automaticamente confrontos armados.
América do Sul
O ponto da América
do Sul com maior instabilidade é a Colômbia, uma vez que nesse país existe um
movimento de guerrilheiros denominados de Farc (Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia), além do Exército de Libertação Nacional (ELN). Ambas têm forte ligação
com a produção de cocaína e com o narcotráfico. Esses grupos atuam exercendo
influência de um estado paralelo, cometendo assassinatos, atentados,
sequestros, entre outros atos de violência.
As Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc) são o maior e mais antigo grupo de rebeldes
de esquerda da Colômbia - e um dos exércitos de guerrilha mais ricos e
poderosos do mundo. Fundada em 1964, a organização tem como propósito anunciado
usar a luta armada para derrubar o governo e instalar um regime marxista no
país.
Áreas de controle na Colômbia
Fonte: Editado literalmente
da SoGeo (disponível em App)
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